domingo, 25 de outubro de 2009



Atenção. A atração a seguir não é recomendada para menores de 18 anos. O conteúdo apresenta linguagem chula, comportamento agressivo, violento e obsceno.



Por Charles






Capitulo 3
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-Saldo os irmãos com a paz do Senhor, amém?! - O pastor se dirigindo aos fiéis.




-AMÉM!!! – respondem ao mesmo tempo, quase em perfeita sincronia, como se tudo houvesse sido ensaiado, os fiéis de uma das milhares congregações Batista do país. Uma igrejinha de subúrbio, montada de improviso numa garagem que há uns três anos era um abatedouro improvisado. Na verdade ainda dava pra notar que o lugar havia funcionado anteriormente como local de abate. Viam-se nas paredes respingos, manchas de sangue, na sala interior a onde executava-se o culto, ainda haviam cones de alumínio, pontas de faca quebradas e baldes velhos com penas grudadas pelo mofo verde que se acumulava não somente ali, mas também no piso da parte interior da propriedade.




- Os irmãos vão abrir suas bíblias em Mateus cinco! Alguém leia, por favor!




Não demorou muito pra levantasse e põr-se pronto a obedecer a ordem, um daqueles senhores de cabelos brancos, chinelo de dedo, com calças e camisa social abotoada até o pescoço e uma bíblia que de tão grande chegava a lembrar uma enciclopédia. Figuras como essa ainda hoje são muito comuns nas igrejas pentecostais, principalmente as mais humildes, as mais puritanas. Digo isso porque a modernidade alcançou também as religiões (até as mais "fechadas"). Hoje os cultos evangélicos lembram mais show de rock. Ele lia com exatidão as palavras de Mateus 5, 1-12, que dizia:

E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;



2- E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:



3-Bem aventurados os pobres de espírito, por que deles é o reino dos céus;



4-Bem aventurados os que choram, por que eles serão consolados;



5- Bem aventurados os mansos, por que eles herdarão a terra;



6- Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça por que eles serão fartos;



7- Bem aventurados os misericordiosos por que eles alcançaram misericórdia;



8-Bem aventurados os limpos de coração, por eles verão a Deus;



9- Bem aventurados os pacificadores por que eles serão chamados filhos de Deus;



10-Bem aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, pois deles é o reino dos céus;



11- Bem aventurados sois voís por minha causa;



12-Exultai e alegrai-vos, por que é grande o vosso galardão nos céus; Pois assim perseguiam os profetas que foram antes de voís...




- Tá bom aí, irmão! - Interrompeu, o cara engomadinho com um terno de linho vagabundo de tamanho errado (como se o defunto fosse maior, entende?): O PASTOR.

-Jesus - continua - queria dizer nessas palavras que você também pode ser um bem-aventurado.

ALELUIA - dizia, quase gritando uma senhora numa das cadeiras de trás, na antepenúltima fileira.

-Jesus... ALELUIA! Jesus quer que você seja justo... ALELUIA! Ele quer que você seja a justiça desse mundo de pecado... ARRIPALABATRAZ - Ééé... Num sei?!!! - ALELUIA!

Bem ali naquela congregação, numa das cadeiras do canto a esquerdo do púlpito, com a cabeça encostada na parede esta Wilian.

Wilian começou a freqüentar a Igreja Batista Pentecostal, aos sete anos, quando seus pais decidiram convertesse ao protestantismo. Obviamente seus pais, como bons cristãos não iam deixar que seu filho ficasse a par disso, correndo risco de queimar no fogo do inferno por não aceitar a Jesus ou mesmo ser pego por outras religiões, denominações ou pior ainda: VIRAR UM MACUMBEIRO. Isso seria totalmente inaceitável.

Wilian desde pequeno foi ensinado a temer a Deus e sua justiça aterradora. Logo Wilian tinha se tornado, desde sua conversão, um cristão convicto. Ele agora com dezoito anos, esperava a benção que tanto pedia a Deus: O telefonema que garantiria sua contratação por um supermercado para o cargo de Prevenção de Perdas, ao qual passou por testes e entrevistas a fim de conseguir o emprego a alguns meses.






{Começa a cantoria...}






“Se tú min'alma

a Deus suplica

e não...”




O tom mórbido do culto e a desafinação em coro não pareciam incomodar Wilian. Principalmente agora... Que ele dormia profundamente.

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Capitulo 4

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-QSO!...QSO!...{Tisc} - Wilian falando por walktalk.
-QAP!{Tisc}- Alguém responde.
-Vou lá!...{Tisc}.QTO...Beleza?!{Tisc}.
-QSL!... {Tisc}. Viu, CAGÃO!!! {Tisc}.

-MATEUS! - Grita Wilian pra um sujeito da segurança, próximo a ele.
-Diga?! – Responde Mateus.
-Vou aqui, viu?!
-Certo!

Enquanto Wilian seguia em direção ao banheiro, reparou que numa das seções, um cara da frente de loja, um dos empacotadores, estava abaixado, meio que se escondendo das câmeras de vigilância. - Fato comum: Funcionários mais experientes sempre sabem onde as câmeras do supermercado estão localizadas e isso facilita, em muito, práticas não muito bem quistas as pessoas mais puristas - Ele não perdeu tempo e logo avisou ao cara que estava na vistoria da loja pelas câmeras.

-QTC... {Tisc} QTC!{Tisc} Cê tá ai?!{Tisc}

-QAP?!{Tisc}

-Cheque a seção de leite... Mercearia!{Tisc}

-QSL!QRX!{Tisc}


{Silêncio...}

{Ruídos do rádio...}


-Tô vendo nada não!Que foi?! {Tisc}

-Deixe!Eu vô olhar!É um Empacotador safado!Tá roubando!Deixe comigo!{Tisc}

-Certo!Qualquer coisa... viu?! {Tisc}

-QSL!{Tisc}

Wilian sai em disparada, cara fechada tipo "Duro de Matar". Ele tenta aproveitar que o meliante estava de costas e não havia até agora notado a aproximação. Parecia muito distraído pro que quer que estivesse roubando.
Quando já estava quase pegando o cara no ato, Wilian nota que o viado só tava tentando falar ao celular, escondido das câmeras. Ao notar isso, a expressão do rosto de Wilian muda.
Era tarde pra tentar disfarçar que estava a ponto de quase reprimir o cara. Qualquer um veria que Wilian achava que ele estava roubando e que queria cumprir sua verdadeira função dentro da empresa: Prevenir que os funcionários roubem, se livrando e garantindo que não houvessem perdas realmente grandes na loja.

-Que foi, véio?!Algum problema? - Retrucou irritado, ainda agachado, o cara da frente de loja.

-Nada! - Foi a única coisa que Wilian conseguiu pensar em dizer até o momento, diante dessa situação embaraçosa.
-Num tô roubando não, mermão!
-Eeeeh...! - Wilian fica mudo, mas sua cara muda de "foi sem querer” pra "você ainda tá errado e eu é que faço as perguntas aqui".

{Silêncio e entreolhares num clima de tensão...}

-Bicho, não pode usar celular aqui, não! - Wilian enrolando.

-Só tô checando os crédito! - Obviamente mentido.

-Beleza então!Agora bicho!Se puder não faça isso mais não, que a gente é cobrado. Só sobra pra gente, tá ligado?! – Falando calmamente, mas com imponência.
-Nenhuma! – Responde.
-QSO... Tudo certo?...{Tisc} - Sujeito pergunta pelo walktalk.
-Positivo! {Tisc}... Beleza! {Tisc} - Responde Wilian.
-QSL!...{Tisc}.
Os dois se entreolham uma ultima vez e se separam, andando cada um para um lado da seção.
Wilian volta imediatamente para sua posição comum na pequena bancada à entrada das prateleiras da loja, do caminho às seções.
-Já?!Cê caga que nem passarinho! - Mateus tirando sarro da cara de Wilian.
Wilian não se importa com o que Mateus diz. Ele sabe que pode ter feito um inimigo e não gosta disso, no entanto para ele isso não é grave o suficiente pra deixá-lo preocupado por muito tempo.

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Capitulo 5
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Ouve-se através dos alto-falantes do supermercado:




"Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague;
Pela cachaça de gra...”

-CARALHO!Essa pica denovo!? É foda, véio!
-Éh, mermão!Todo dia... Todo dia... Num quento não, véio!Num quento não!É foda!
-Deixam essa porra desse CD no repete a madrugada toda!Só a gente que se fode!Trabalha, trabalha e se fode. Ainda tem que ouvi essa... ÓI!!!
Derrepente uma das caixas de leite que os dois repositores estavam empilhando nas prateleiras da seção caí no chão molhando todo o piso, emporcalhando a porra toda.
-PÔ...RRA!!!
-É foda!Vô chamá o C23!
-Vá lá!... Êh, vida de urêa seca da porra!

Ainda se ouve a canção:

"Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir



E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir



E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,



De...”




-Ô, MARCELO! – Grita Arnaldo, sem deixar que Marcelo deixe a seção na sua busca pelo C23.
-Diga?! – Responde Arnaldo.
-Que hora é?!
-Duas... E quarenta e cinco! – responde aproximando dos olhos o relógio de pulso dourado vagabundo comprado em alguma barraquinha de camelô da cidade.
-Deixe essa pica pra lá!Vâmo pro intervalo!
-Falou! – os dois vão em direção a parte de traz da loja adentrando por uma larga passagem fechada por uma porta de plástico transparente manchada, como aquelas que costumam usar em frigoríficos. A passagem leva a PR do supermercado. Local usado para os lanches servidos no turno da madrugada deste supermercado vinte e quatro horas, mas que normalmente seria um área de embarque e desembarque de mercadorias... Se era sujo?! PRA CARALHO!
Ambos passam seus crachás eletrônicos na maquininha de ponto localizada na entrada da PR.
-Eí véio!Vou aqui! – Avisa Marcelo.
-Vá, lá! – Responde Arnaldo.
-Marcelo corre para poder aproveitar melhor seu tempo de intervalo, já que erroneamente ele preferiu “bater o ponto” antes de ir ao banheiro. Erroneamente por que, se tivesse escolhido fazer isso depois de ir ao banheiro, teria mais tempo pra comer, dormir (de forma improvisada, no chão com os papelões facilmente encontrados ali)e até fazer “corpo mole”, demorando muito mais que o suficiente , o famigerado nó.



Ele mal entra num dos Box que compõem o cagatório e é interrompido ( bem, na verdade ele é que interrompe). Já sentado no vaso sanitário, segurando a barra da calça pra não molhar no chão úmido, Marcelo ouve sons estranhos saindo do banheiro ao lado. Apesar da correria, com que havia entrado no banheiro, ele não havia até o momento provocado quaisquer ruídos que pudessem incomodar ou mesmo avisar de sua presença a alguém que ocasionalmente ali estivesse.



O nosso amigo repositor era um sujeito muito intimidador. Tinha cerca de um metro e noventa, noventa quilos, lembrando mais um dos aliados do “Connan” que um funcionário de supermercado, no entanto isso não causava a estranheza de nenhum conhecido, pois era notável a sua tara doida por musculação, fisiculturismo e qualquer assunto que envolvesse o condicionamento a um ritual de exercícios e fortalecimento, ou seja, o que ele queria mesmo era ser uma “máquina de músculos”.Passava horas malhando e mantinha uma freqüência diária de exercícios, claro sempre tomando umas “bolinhas”, que segundo ele eram suplementos pra ajudar a obter energia.
Marcelo como qualquer um nessa situação fica se remoendo de curiosidade pra saber o que é que esta havendo no Box ao lado.Ele então delicadamente , afim de não ser notado, encosta seu ouvido na parede do Box que divide o espaço onde esta do Box ao lado.O que ele ouve é uma discussão, cochichos.
-Para!...Alguém pode ouvir! – Persona A
-Deixa de putaria!Vêm logo! – Persona B
-Você é safadinho, ein?! – Persona A
-Hum!Você vai ver quem é o safado! – Persona B
-ME COME!!!! – Persona A
-AAH...UM...AÍ...!!!!! – Pesonas A e B
A partir desse momento, o que se ouve são gritinhos e gemidos contidos. A te a mais inocente criança ( se é que isso ainda existe!?)saberia o que estava se passando ali.
Marcelo não consegue contersse diante desta cena e solta um tímido risinho. Imediatamente, sobe no vaso sanitário pra matar a sua curiosidade, saber quem era o casal “danadinho”, que resolveu “dar umazinha” na podridão de um banheiro lambuzado em merda. Ele lentamente eleva-se sobre o Box, apoiando as mãos na parede e esticando-se ao máximo, com apenas um pé na borda do vaso. Finalmente ele pode ver a cena completa.




{Silêncio...}




-PORRA! – Diz um dos dois sujeitos, mais especificamente o que estava “por cima”.
-QUE NEGÓCIO É ESSE? – Marcelo tentando imporsse – TÃO BATENDO CUNHÃO AI, É?!
-Né nada disso, não... Não!!! – Agora nervoso, sem palavras, sem justificativas e literalmente com as “calças na mão”, o cara que estava por cima.
-NÉ NÃO, O QUE?NÉ NÃO, O QUE? – Marcelo ainda impondo-se, mas agora com cara de mau, com cara de “peguei você”!!




{Silêncio...}




-O que é que você quer pra ficar calado? – Pergunta o “cara de baixo”, (que até então, nada havia feito além de por suas calças no lugar, sempre olhando para baixo e para os lados, tentando desesperadamente esconder o rosto e ao mesmo tempo parecer que não fazia, até esse momento, o que realmente estava fazendo) estranhamente falando com Marcelo num tom de quem sabia que este poderia de alguma forma ser “comprado”.




{Silêncio e entreolhares...}




-Você vai ver já... O que eu quero! – Responde Marcelo.




Então por vinte minutos, enquanto os demais funcionários trabalhavam ou usufruíam do horário de intervalo comendo, aqueles dois caras franzinos: Flávio, o cozinheiro e Carlos, o caixa, juntaram-se a Marcelo, um homenzarrão (quase um G.I. Joe), numa orgia a três.
Uma hora depois Marcelo e Arnaldo voltam a empilhar caixas de leite. Arnaldo sem noção do que havia acontecido pra justificar o sumiço de Marcelo durante o intervalo (momento esse sem dúvida o mais esperado e mais disputado em qualquer supermercado), pergunta ao seu companheiro de trabalho:
-Ei, véio!O que foi que você sumiu?
-Eu sumi?! – Marcelo sentindo-se intimidado.
-É!Lá no intervalo!?
-E você sentiu minha falta, foi? – Marcelo sendo irônico pra disfarçar o que realmente tinha acontecido.
-Ah!Vá se fuder!Eu pergunto uma coisa e você fica com viadagem!!
-Há, há! – Marcelo ri sem graça, num misto de medo e vergonha. Ambos, Marcelo e Arnaldo voltam a empilhar caixas de leite, cumprindo suas funções de repositores durante toda a madrugada.





Continua...

Por Charles

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