domingo, 25 de outubro de 2009

Atenção. A atração a seguir não é recomendada para menores de 18 anos. O conteúdo apresenta linguagem chula, comportamento agressivo, violento e obsceno.



Por...Charles Alberto

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, por que eles serão fartos".
Mateus Cap.5, Vers.6



Capítulo 9



-Deita com a cara no chão, CARALHO!
-Mm...hmm...e...eu...Calma!Eu...
-Calada!Deita logo puta! - Eu batia na nuca dela com a parte de traz do meu trinta e oito preto, enquanto via a cara de pavor do zelador ou C23, como era chamado internamente por nós funcionários - supermercados costumam codificar os cargos dos funcionários por letras acompanhadas de números, nesse caso o C23 era o zelador- Parecia que os olhos dela iam saltar pra fora, mas eu pouco me importava. Eu só achava repugnante o fato de minha mão direita ficar úmida com o pouco de sangue que havia respingado na coronha da arma e escorria entre meus dedos. Eu me perguntava onde estaria Santana há essa hora.




Capitulo 1




Eu já havia trabalhado antes, mas nunca tinha passado por uma entrevista de emprego formal. Até então eu só havia estado em dois empregos e esse seria o primeiro com “carteira assinada” (como costumam dizer os “velhos” daqui), os anteriores foram um estagio e um “bico” numa gráfica. Ambos conseguidos com o famoso apetrecho do Q.I. : “Quem indica”. Acontecia assim: Ou minha mãe conhecia um amigo de um amigo influente ou havia alguma indicação de um familiar, essas coisas com as quais todo mundo já está acostumado e cansado de saber como, quando e com quem acontecem.
Depois de quase quatro anos na pindaíba, sem grana e com um profundo enchimento de saco por parte dos meus pais, cá estava eu sentado no RH de uma famosa rede de supermercados da região, esperando a minha vez pra ser entrevistado e talvez conseguir meu terceiro emprego (o primeiro emprego sério da minha curta vida, dos meus dezenove aninhos a muito completados).
Sempre fui um cara retraído, tímido em parte talvez por ter sido criado meio que passado de mão em mão durante quatro anos da minha infância (que, diga-se de passagem, foram fundamentais para grande parte da minha formação intelectual) sendo criado num regime de isolamento e super-proteção e claro, em frente à TV (minha eterna fiel amiga) por meus avôs maternos, dos três aos sete anos. Meu pai deixou minha mãe pelo tempo referido e eu só o conheci aos sete anos, quando ele se reconciliou com minha mãe e a engravidou da minha irmã mais nova (desconfio que não necessariamente nessa ordem).
-Charles Alberto Andrade - gritava em um tom meio irritado, estressado. Uma senhora meio gorda, baixa, usando óculos com uma folha de papel um pouco amassada na mão esquerda, lendo meu nome e logo em seguida procurando com os olhos no banco velho de couro preto sintético, onde estava eu, minha mãe e mais alguns candidatos.
-É você Charle!Diga que sua prima lhe mandou. Diga que ela falou com ele pelo telefone ontem - dizia minha mãe como se não confiasse na minha capacidade de me portar bem em uma entrevista de emprego. Na verdade ela tinha razão, eu estava meio nervoso com aquilo tudo, mas mesmo assim não podia perder a chance de bancar o “sabichão experiente” e soltei logo um irritado: ”Eu sei, eu sei”!




Capitulo 2





Era impossível que alguém não ficasse minimamente nervoso numa situação como essa, ainda mais sob as condições como eu vivi minha vida inteira.
Eu fui (apesar de sempre viver uma vidinha extremamente modesta num subúrbio ligeiramente calmo, mas com claros contrates de pobreza)condicionado a sempre a viver dependente dos adultos, fossem eles meus pais ou meus avós e agora eu tecnicamente me enquadrava como um deles. Apesar disso eu ainda vivia sob as mesmas condições... No fundo eu ainda era uma criança.
Nervoso, eu sentei bruscamente, assim que o administrador da repartição (meu entrevistador) fez um sinal com a mão para que eu me sentasse. Eu ficava olhando para os lados. Olhando para a mesa e o porta-canetas que estava sobre ela. Olhava para o fundo do porta-retratos que estava bem próximo as minhas mãos. Tentava ver o que aquele homem velho, meio careca escrevia incessantemente numa folha de papel com um logo da empresa, que parecia ser minha ficha de inscrição, talvez minha sentença de” empregado ou desempregado”. “Um homem ou um fracassado”.
-É Charles, né? - Perguntou ainda sem me olhar nos olhos, lendo meus dados no no papel.
-É sim.
-Charles, quantos anos você tem?
-Vou fazer vinte! - respondi ainda meio nervoso.
-Olha!Me desculpe, eu não me apresentei.Meu nome é Carlos - agora sim olhando em meus olhos - Você já teve outros empregos antes?
-Já! Mas, não tinha carteira assinada.
{Silencio breve...}
-Hum!Que cargo você pretende disputar na empresa?
-Qualquer um. Eu tô aqui pra trabalhar. O que tiver pra mim tá bom.
-Certo!Você já concluiu o ensino médio?
- Já! Na verdade eu acabei de começar... Digo, eu acabei de entrar na faculdade. É por isso que eu preciso do emprego. Minha prima falou com o senhor por telefone ontem à tarde. O nome dela é Sandra. O senhor deve conhecer... Eu acho!
-Ah!Você é o menino que Sandra disse que ia mandar!Ela é sua prima, é?
-É sim! - respondi prontamente.
Hum!Bom, nós só temos disponíveis no momento cargos pequenos agora viu?!A gente tá com excesso de pessoal. Não estamos em época de contratação ainda, na verdade.
-O que tiver pra mim tá bom!Eu tô precisando trabalhar. Só isso! - respondi com uma ponta de desespero diante da situação que ele expôs.
-Certo!...Você vai voltar na segunda-feira (dizia enquanto anotava as informações num papel, como um médico a receitar o paciente). Hoje eu tô multi-atarefado, mas eu prometo que têm alguma coisa pra você até lá, tá?
-Certo - repeti quase como ele fez ao longo da conversa - Estarei aqui!”
-Dê lembranças a sua prima! - Dizia pra mim, enquanto levantava um pouco apertando minha mão num comprimento amistoso, mas quase dizendo: ”Até logo”!.
-Eu dô!Obrigado, viu Seu Santana! - Agradeci ao cara em questão (Carlos Santana), que certamente seria meu futuro Superior.




Capitulo 9 (continuação)




A mulher em quem bati com tanta raiva chamava-se Cristina. Cristina havia se tornado Encarregada do setor de frente de loja porque trepava com o gerente geral de uma das lojas da rede de supermercados: João de Deus, seu marido. No entanto dificilmente ela ocuparia o mesmo cargo que o referido. É muito incomum, os proprietários de grandes empresas aceitarem uma mulher numa categoria tão importante, com regalias de controle, ainda mais sob uma das maiores lojas da rede.
Cristina no máximo ocuparia o mesmo cargo por um longo tempo, migrando de setor em setor, de loja em loja, até que ela própria se cansasse disso e auto-provocasse sua demissão.
Ela era conhecida por todos como uma tremenda “PUTA MANDONA”, que vivia enchendo o saco dos outros com exigências continuas, afim de se auto promover “nas costas dos outros”, mostrando serviço só mandando na gente, enquanto os outros é que “se matavam”.
Hoje Cristina não ia mandar em ninguém. Hoje eu sou o encarregado. Hoje eu sou o líder. Hoje eu sou a porra do gerente, o dono dessa merda toda.
-Você!Enche “as bolsa” com dinheiro dos “caixa” - dizia apontando meu revolver pro chamado “Prevenção de perdas”.O cara que devia fazer uma segurança menos efetiva.Um sujeito que geralmente vive a perseguir os garotos que saem do colégio e entram no supermercado pra roubar alguns chocolates, pilhas ou simplesmente andar sem destino.Quase sempre esses caras vivem a bancar os “Jack Bauer” em seus coletes azuis com walktalks, mas esses tipos não passam de uns merdas que ganham tão mal quanto nós, ou deveriam ganhar, já que a maioria aproveita de alguns regalias da posição pra realizar séries de furtos medianos. O cara em questão é um dos mais desagradáveis:Wiliam.O cara nunca foi com minha cara e nem eu com a dele, só que nesse momento, com a cara no chão gelado no piso sujo, ele não parecia tão macho e eu continuava falando com imponência.
-Vâmo, viado!Levanta daí e enche o saco com o dinheiro!
-Tá tudo fechado! - Dizia sem me olhar nos olhos.
-Cristina me dê a chave! - Cristina me passava a chave sem nem pestanejar, com a cara de quem ainda sentia a coronhada, mesmo sem nem tentar em nenhum momento tirar as mãos do chão e por na cabeça pra estancar o sangramento que ainda corria na nuca e no pescoço.
-Pronto!Olha aí!Agora enche rapidinho, seu viadinho de merda!
Olhando ao redor dava pra ver que tudo tinha dado certo. Naquela madrugada só haviam dois seguranças contratados (como de costume), vindos de uma empresa particular, teoricamente treinados e armados(esses foram fáceis de dar conta). Além deles, dois Prevenção de Perdas (um deles era o Wiliam e o outro o Marcos que estava de cara pro chão junto com os outros) e mais onze funcionários, entre eles um zelador (o cagão que eu falei antes, lembra?), três atendentes de caixa, dois empacotadores, uma Encarregada,(Cristina), um cozinheiro, um assistente de cozinha (que também fazia as vezes de atendente de lanchonete) e por ultimo dois repositores de produtos (que hoje revezavam-se na arrumação das seções da loja inteira).
Agora eu podia ver claramente os doze deitados com a boca no chão, tremendo, em parte pelo gelado chão de mármore sujo que tocava diretamente seus rostos e braços, em parte pelo medo fudido que sentiam nesse momento. Medo esse que talvez não fosse tão grande, se comparado ao que Wiliam demonstrava claramente, tropeçando nas próprias pernas enquanto enchia quatro sacolas de supermercado branquinhas com o conteúdo de três caixas registradoras que irresponsavelmente não haviam sido parcialmente recolhidos, desabastecidos por mais de meio dia de experiente (umas dez horas). O que seria certamente suficiente, naquela alta temporada de vendas pra eu me mandar pra outro estado e passar uns meses muito bem abastecido.
-Terminei – Wilian veio com a cabeça curvada e com “aquilo”... quatro sacos branquinhos, quase se rasgando devido ao peso das moedas que tintinlavam suavemente, como SINOS DOS CÉUS.
Meus olhos brilhavam. Eu quase não acreditava. Era mágico!
-Aê, meu garoto! – soltei uma risadinha quase sem querer, quase dando tapinhas na cabeça de Wilian como se faz a um cachorro, quando faz um truque para o dono – Volta pro chão agor...
-BANG!
-CARALHO!MAS, QUE PORRA É ESSA?!
-BANG!BANG!
No desespero só consegui me lembrar de pegar as sacolas e correr o mais rápido que eu pudesse, derrubando uma porção de moedas no chão. Eu só sabia que agora eu tava FUDIDO DE VERDADE.




Continua...


Por...Charles
VaLe uMa ZoiaDa: http://bobquest.blogspot.com/

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